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A ESCRITA AUTOMÁTICA: ANDRÉ BRETON, OCTAVIO PAZ E O CABARET VOLTAIRE / JOÃO SCORTECCI

A “Escrita automática” é um método criado pelos dadaístas (fundadores do Dadaísmo, nome derivado da palavra “dadá", que foi um movimento da chamada vanguarda artística moderna, marcado pela contestação aos valores culturais), em Zurique,Suíça, em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial. Defendido pelo poeta normandiense André Breton (1896 – 1966) e pelo poeta romeno Tristan Tzara (1896 – 1963), esse método objetiva evitar os pensamentos conscientes do autor e possibilitar a liberação do fluxo do inconsciente. Por meio da “escrita automática”, o eu do poeta se manifesta livre de qualquer repressão da consciência, fazendo crescer o poder criador do homem fora de qualquer influxo castrador. Seu propósito é vencer a censura que se exerce sobre o inconsciente, libertando-o por meio de atos criativos não programados e sem sentido imediato para a consciência, os quais escapam à vontade do autor. A “escrita automática” chegou ao Brasil nos anos 1920, por intermédio do poeta, crítico literário, jurista e cronista Prudente de Morais Neto (1904 – 1977), e do crítico literário e jornalista Sérgio Buarque de Holanda (1902 – 1982). O poeta, ensaísta, tradutor e diplomata mexicano Octavio Paz (Octavio Paz Lozano, 1914 – 1998), Nobel de Literatura de 1990, testemunhou e viveu o movimento surrealista, sofrendo grande influência de André Breton, de quem foi amigo. Em sua criação, experimentou a “escrita automática”, tendo praticado posteriormente uma poesia ainda vanguardista, porém concisa e objetiva, voltada a um uso mais preciso da função poética da linguagem, como no poema “Dois Corpos”: “Dois corpos frente a frente/são às vezes raízes/na noite enlaçadas.// Dois corpos frente a frente/são às vezes navalhas/e a noite um relâmpago.//Dois corpos frente a frente/são dois astros que caem num céu vazio.” O Dadaísmo foi criado no Cabaret Voltaire, um clube noturno em Zurique, Suíça, fundado por Hugo Ball, com a sua companheira Emmy Hennings, em 5 de fevereiro de 1916, com propósitos políticos e artísticos. Outros membros fundadores foram Marcel Janco, Richard Huelsenbeck, Tristan Tzara, Sophie Tauber-Arp e Jean Arp. Os eventos no Cabaret apresentavam palavra falada, dança e música e foram fundamentais para o surgimento do Dadaísmo, mas o clube não vingou e fechou no mesmo ano de 1916. Os artistas do movimento acabaram mudando para outros lugares, como Galerie Dada, também em Zurique, e, depois, para Paris e Berlin. Com o método da “escrita automática”, o Dadaísmo propiciou o aparecimento do Surrealismo, e esses movimentos artísticos revolucionaram a concepção de arte e cultura nas primeiras décadas do século XX.