Lenyra de Arruda Camargo Fraccaroli (Rio Claro/SP, 21.04.1906 - São Paulo/SP, 17.01.1991), formou-se professora, em 1932, pela Escola Normal de São Paulo (Escola Normal da Praça). Entre 1933 e 1935, dirigiu a Biblioteca Infantil Caetano de Campos, da Escola Primária Anexa àquela Escola Normal. Iniciativa pioneira no Brasil, essa biblioteca infantil (escolar) foi criada em 1925, pelo professor Carlos Alberto Gomes Cardim, e, após diversas reformulações, foi reaberta definitivamente em 1936, sob a direção da professora Iracema Marques da Silveira, até 1966. Com a experiência adquirida nessa atividade, em 1936 Lenyra Fraccaroli idealizou e fundou com Monteiro Lobato a primeira biblioteca infantil da cidade de São Paulo (que, posteriormente, recebeu o nome do escritor), uma das ações do Departamento de Cultura, idealizado e dirigido pelo escritor Mário de Andrade.
Em 1940, Lenyra diplomou-se como bibliotecária pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e, de 1950 até se aposentar em 1961, dirigiu a Divisão das Bibliotecas Infantojuvenis de São Paulo, implantou a Biblioteca Braille, em 1947, e atuou intensamente na organização, instalação e funcionamento de 20 bibliotecas infantis públicas na capital paulista, além de ter participado da organização de outras no interior paulista e em outros estados brasileiros, como a Biblioteca Infantil de Salvador, na Bahia, em 1950, cuja proposta de criação elaborada por Denise Tavares, sua primeira diretora, contou com a apreciação de Lenyra, antes de ser apresentada a Anísio Teixeira, então Secretário de Educação e Saúde do Estado da Bahia.
Lenyra ministrou cursos e palestras, participou de congressos nacionais e internacionais sobre bibliotecas infantis e literatura infantil. Em 1979, viajou pelo Brasil e esteve também na Universidade Estadual Paulista - campus de Assis, onde ministrou aulas. Em 1975, foi sócia-fundadora do CELIJU – Centro de Estudos de Literatura Infantil e Juvenil, idealizado por Odete de Barros Mott e Idaty Brandão Onaga e de que participou também Nelly Novaes Coelho. Em 1978, criou a Academia Brasileira de Literatura Infanto-Juvenil, de que foi presidente honorária e vitalícia. Escreveu dezenas de textos, entre artigos, capítulos, entrevistas, boletins, pareceres sobre livros, cartas, catálogos e uma de suas obras mais importantes: a Bibliografia brasileira de literatura infantil em língua portuguesa (1953) – primeira publicação do gênero no Brasil – com objetivo de servir de referência para os catalogadores das bibliotecas infantis e escolares. Por sua destacada atuação na implantação de bibliotecas infantis públicas, tornou-se referência para bibliotecários, professores e escritores de livros para crianças, recebeu dezenas de homenagens, como a de patronesse de biblioteca e salas de leitura, e títulos, como o de Sócia Benemérita da Associação Paulista de Bibliotecários, e foi Presidente do Comitê Interamericano de Bibliotecas Infantojuvenis para a América Latina. Uma das homenagens é também a tese de doutorado de Franciele Ruiz Pasquim, que orientei e em que se encontram resultados de detalhado pesquisa documental e bibliográfica sobre a vida e a obra de Lenyra Fraccaroli.
A atuação pioneira dessa mulher, bibliotecária e educadora para a criação de bibliotecas infantis e a difusão de livros e leitura acessíveis a todas as crianças e jovens constitui um legado inestimável a inspirar todos os que se empenham em iniciativas e ações coletivas para a democratização da leitura e do acesso aos livros e para a formação de leitores.
Maria Mortatti