Autor de extensa obra literária, com mais duas dezenas contos, novelas e romance, alguns traduzidos para o inglês, espanhol, alemão, russo e japonês; laureado, por três vezes, com o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, com o Prêmio Coelho Neto; da Academia Brasileira de Letras, com o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte; empossado na Cadeira 29 da Academia Paulista de Letras; membro do Conselho Estadual de Cultura – SP; presidente da União Brasileira de Escritores; primeiro diretor do Museu de Literatura Paulista, entre tantas outras atividades que desempenhou ao longo de sua carreira como escritor, jornalista, publicitário e professor, Ricardo Ramos, nascido em 04.01.1929, em Palmeiras dos Índios/AL, mudou-se para a capital paulista com 15 anos de idade, cidade pela qual se apaixonou e onde morou até seu falecimento, com 63 anos, em 20.03.1992.
Não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, o que teria me proporcionado momentos de intenso e prazeroso aprendizado, considerando o que contam familiares e amigos que desfrutaram da convivência com o homem por trás da obra. Mas já era sua leitora e admiradora, quando a vida e a profissão me proporcionaram o encontro com sua intimidade literária. Foi entre os anos de 1993 e 1995, como orientadora de dissertação de mestrado em Letras, de Aroldo José de Abreu Pinto, na Universidade Estadual Paulista – campus de Assis, publicada no livro Literatura descalça: a narrativa "para jovens” de Ricardo Ramos (Arte & Ciência, 1999), que prefaciei.
Com a inestimável colaboração de Ricardo Ramos Filho, Rogério Ramos e outros familiares do escritor, foi possível reunir documentos e informações sobre sua vida, obra e fortuna crítica, com o objetivo de analisar em particular a configuração textual de suas novelas para jovens: Desculpe a nossa falha (1987), Pelo amor de Adriana (1989), O rapto de Sabino (1992), publicadas na Série Diálogos, da Scipione. Confirmando as qualidades que o tornaram reconhecido e premiado, a destinação editorial para público jovem não ofusca as características do estilo do escritor. E confirma também seu profundo conhecimento da produção brasileira e estrangeira do gênero conto e a intensa participação na vida literária, cultural e política de seu tempo. Sua literatura “para jovens” não é juvenilizada, nem utilitária, evidenciando a importância de se oferecerem a esses leitores textos com temática de interesse conforme suas vivências e que propiciem reflexão crítica sobre a realidade social, sem abrir mão da qualidade estética.
Foi por meio da orientação dessa pesquisa que pude compreender e apreciar a singularidade da obra de Ricardo Ramos, a despeito das inevitáveis comparações – que o escritor sempre rechaçou – com a obra do pai, Graciliano Ramos (27.10.1892 – 20.03.1953), cuja biografia em forma de “retrato fragmentado” ele escreveu no final da vida. Cada um a seu modo, ambos – falecidos no equinócio de outono – ocupam merecidos lugares na história da literatura brasileira.
Três décadas passadas do falecimento de Ricardo Ramos, ressurgem essas lembranças fragmentadas daquele encontro com sua intimidade literária em minha estreia como orientadora de mestrado. Um encontro fecundo, prazeroso e de muito aprendizado. Assim é com os autores que nos marcam e estão sempre presentes.
Maria Mortatti