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A MELHOR “CARETA” É A QUE FICA / JOÃO SCORTECCI

Careta foi uma revista humorística que circulou semanalmente, aos sábados, de 1908 a 1960. Foi fundada na cidade do Rio de Janeiro (Capital Federal) pelo tipógrafo-editor Jorge Schmidt, que também publicou as revistas Kosmos (1904 –1909) e Fon-Fon (1907 –1958) e se destacou pela utilização de inovações gráficas e editoriais, em voga nas principais cidades europeias e norte-americanas da época. Careta teve como colaboradores alguns dos melhores chargistas do País, entre eles, como diretor e ilustrador, J. Carlos (José Carlos de Brito e Cunha, 1884 – 1950), designer gráfico, escultor, autor de teatro de revista, letrista de samba e considerado um dos maiores representantes do estilo Art Déco do design gráfico brasileiro. J. Carlos deixou a revista em 1921, para se dedicar à direção das publicações da empresa O Malho, mas, em 1935, retornou à Careta, onde trabalhou até sua morte, em 1950. Em 1934, com o falecimento do editor-proprietário, Jorge Schmidt, seu filho, Roberto Schmidt, assumiu a direção da revista, até falecer, em setembro de 1960. Careta ainda sobreviveu por mais dois meses, sob a direção interina de M. Carolina Schimdt, e foi extinta em novembro de 1960. O primeiro número, publicado em 6 de junho de 1908, trazia na capa uma caricatura do presidente Afonso Pena (1847 –1909). No “artigo de fundo” (editorial de lançamento), a revista anunciava seu caráter satírico e evidenciava o desejo de atingir um “Público com P grande!”, alusão ao variado e enorme público-alvo da revista, que teve ampla circulação nacional. Careta era impressa no formato 20 x 30 cm, com design ousado para a época e excelente padrão gráfico, capa colorida, com 32 até 48 páginas por edição, e fazia amplo uso de ilustrações e fotografias. Foi impressa em papel couché, até 1941. Em meio à Segunda Guerra Mundial, o preço do papel importado aumentou, e a revista passou a ser impressa em papel jornal, usando o couché somente na capa. Seu repertório era eclético, incluindo crônica, poesia, opinião, notícia, piada, concurso, crítica, sátira política e de costumes e colunismo social. Durante o período de circulação ininterrupta, a revista teve como colaboradores outros artistas gráficos de prestígio, tais como: Belmonte, Malagute, Raul Pederneiras, Calixto e Theo. No início, contou com a colaboração de alguns dos mais afamados escritores da época, como: Olavo Bilac, Martins Fontes, Olegário Mariano, Aníbal Teófilo, Alberto de Oliveira, Emílio de Meneses, Bastos Tigre, Leal de Souza, Mario Bhering e Luís Edmundo. Posteriormente, contou também com a colaboração de Lima Barreto, Orestes Barbosa, Domingos Ribeiro Filho, Viriato Correia, Umberto Peregrino e J. Frazão, entre outros. Ao compartilhar de forma ágil texto e imagem, Careta foi uma das mais importantes expressões da modernidade artística e intelectual do Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XX. Mantinha uma postura independente e assumiu posições políticas em meio às grandes polêmicas de sua época, como quando apoiou Ruy Barbosa (1849 –1923), na Campanha Civilista, em 1910. Durante a vigência do estado de sítio de 1914, no governo do Presidente Hermes da Fonseca (1855 –1923), a revista foi proibida de circular por três semanas, e seus diretores foram presos por alguns dias. Durante o Estado Novo (1937 – 1945), a publicação de charges funcionou como estratégia de oposição à propaganda oficial do governo de Getúlio Vargas, reforçando o padrão crítico do periódico. Sua publicação foi retomada em 1964, com três edições pela Empresa Jornalística Arte Rio. Posteriormente, de 1981 até 1983, foi publicada pela Editora Três (SP), com roupagem nova, no formato 18 x 26 cm, e contou com nomes ilustres da “imprensa alternativa” e com escritores, como Mário Prata (editor da revista), Tarso de Castro, Luís Fernando Veríssimo, Angeli, Plínio Marcos, Paulo Caruso, Alex Solnik, entre outros. Careta circulou, ininterruptamente, durante 52 anos, e o legado de seus editores-proprietários, Jorge Schmidt (pai) e Roberto Schmidt (filho), faz parte da história de sucesso da indústria editorial e gráfica brasileira, como exemplos de inovação, superação, determinação e amor às artes gráficas.

João Scortecci