Esopo era um ermitão! Maluco da cabeça e prosador solitário de fabulosos. Dizem – não sei se é verdade – que conversava com os animais e que eles – sabiamente – contavam-lhe histórias de caráter educativo, de fundo moral, artimanhas do reino animal. Fomentavam analogias entre o cotidiano humano, seus princípios e a vida animal na selva. Eram verdadeiros fabulosos! Uns mais, outros menos. Esopo era o elo. Início, possibilidades e o caminho: até ao imaginário. Pura fantasia! Fabulavam de tudo. Rugiam, zurravam, latiam, cacarejavam, uivavam numa única voz. Comunicavam-se com o olhar do sol e a paz da noite, praticavam gestos, harmonia, expressões faciais e emoção. Os bichos o amavam e não largavam do seu pé, infernizando-o dia e noite. Pobre Esopo! “O que vocês querem de mim: a alma?”, perguntava sempre. Em Delfos – cidade grega onde viveu e morreu, entre 620 a.C. – 564 a.C. – tinham-no como um doido de pedra. “Abram o bico!”, gritava. “Mostrem as garras, os dentes e o bafo ou me joguem de vez no abismo da loucura”, protestava. Certa vez, conversando com o leão, o rei da selva, perdeu as estribeiras. “Sempre você! Diga. Fale. O que você quer de mim?” “Nós, criaturas de Deus, vez por outra temos desejos humanos. Queremos ser como você: prosadores fabulosos! Temos segredos, lições, valores, histórias de sangue e sonhos – muitos sonhos – para ensinar, dividir, compartilhar com os espíritos do reino de Deus.” “E o que isso realmente significa?”, insistiu Esopo. O leão o olhou – surpreso – e explicou: “Queremos interagir – palpitar – nas fábulas e nas narrativas dos humanos. Queremos personificar o conhecimento animal, a sabedoria da natureza, os princípios da sobrevivência e a esperança que é a vida. Coisas da cabeça da bicharada intelectual! Compreende?” “Pergunto, então: não existe na história outro maluco melhor do que eu?” “Não. Ainda não. No momento somente você!”, respondeu o leão. “Sou, então, o primeiro dos loucos a fabular?” “Sim. O primeiro, até agora. Outros dois estão por vir. É que ainda não nasceram.” “Outros dois?” “Sim. Mestres fabuladores e encantadores, como você.” “Eles têm nome?” “Sim. Caio Júlio Fedro e Jean de La Fontaine. Também doidos de pedra e encarnados do seu legado.” Início, possibilidades e o caminho: até ao imaginário. Pura fantasia!
João Scortecci