Em novembro de 1951, em viagem pela América do Sul, desembarcou no porto de Santos/SP e seguiu para o Rio de Janeiro para visitar amigos por duas semanas. Experimentou um caju que lhe causou forte alergia, obrigando-a a ficar mais tempo do que o previsto, conheceu a arquiteta Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, a Lota (1910 – 1967), apaixonou-se por ela e permaneceu no Brasil por 15 anos. Morou na cidade do Rio de Janeiro, na chácara Samambaia, em Petrópolis, e na cidade de Ouro Preto/MG, onde construiu uma casa. Aqui escreveu grande parte de sua obra, também sobre temas brasileiros, conheceu intelectuais e poetas e divulgou traduções em inglês de poemas de Manuel Bandeira – que também traduziu poemas da norte-americana –, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, além de o Diário de Helena Morley, de Alice Brant. Nos textos em prosa e em cartas aos amigos, criticava hábitos da cultura brasileira e, embora não tivesse interesse por política, chegou a elogiar o golpe militar de 1964, dada a proximidade de sua companheira, Lota, com políticos da UDN. Em 1966, com dificuldades financeiras, foi para Seattle, EUA, para ministrar um curso na Universidade de Washington e se apaixonou por uma jovem aluna norte-americana. Em setembro de 1967, Lota foi a Nova York para se encontrar com Bishop e, no dia seguinte, ingeriu overdose de tranquilizante, entrou em coma e morreu semanas depois, com 57 anos de idade. No início dos anos 1970, Bishop vendeu a casa em Ouro Preto e retornou aos Estados Unidos da América, viveu com outra mulher e, em 1970, passou a lecionar na Universidade de Harvard, em Massachusetts. Morreu em Boston, de aneurisma cerebral, com 68 anos de idade. A intensa relação amorosa de Bishop e Lota é retratada em livros e no filme Flores raras (2013), de Bruno Barreto, baseado no livro Flores Raras e Banalíssimas, de Carmen L. Oliveira. Em 2019, foi lançada sua biografia, pelo professor norte-americano Thomas Travisano, traduzida no Brasil pela Companhia das Letras.
Após a morte da irrequieta poeta, sua extensa correspondência foi publicada, seus livros foram reeditados, sua obra vem sendo redescoberta, com crescente reconhecimento de sua proeminência na literatura de língua inglesa do século XX, e traduzida em outros países, também no Brasil. É considerada uma das mais importantes poetas norte-americanas, pela precisão de descrições do mundo físico e a lírica concisa sobre temas como a solidão, a busca de pertencimento e, sobretudo, a angústia da perda que a acompanhou por toda a vida e, como essência da experiência vital, é reencontrada, enfrentada, dominada e lapidada na elegia em villanelle, esta joia de Elizabeth Bishop:
Maria Mortatti – 23.05.2023