A filósofa neoplatônica grega Hipatia (351/370 d.C – 415 d.C) foi a primeira mulher da história assassinada por ser uma pesquisadora da ciência. Era filha de Teón, professor de matemática e astronomia, bibliotecário em Alexandria e responsável pela produção, em 390 d.C, de uma versão mais elaborada da obra Os elementos, do matemático platônico Euclides, considerado o pai da Geometria. Hipatia, seguidora da escola intelectual do pensador Plotino, estudou Lógica e Matemática. Plotino – em sua filosofia – exposta nas Enéadas, coleção de escritos editada e compilada por seu discípulo Porfírio, por volta de 270 d.C., descreve a filosofia neoplatônica em três princípios: o Uno, entidade suprema, totalmente transcendente, além de todas as categorias do Ser e Não-ser; o Intelecto, atividade do intelecto ou da razão, em oposição à atividade dos sentidos e a Alma do Mundo, força regente do universo pela qual o pensamento divino pode se manifestar em leis que afetam a matéria, ou, ainda, a hipótese de uma força imaterial, inseparável da matéria, mas que a provê de forma e movimento. Hipatia foi autora de um comentário sobre a Aritmética de Diofanto e um comentário sobre as Crônicas de Apolônio e uma edição do terceiro livro de um escrito em que seu pai, Teón, divulgou o Almagesto de Ptolomeu. Infelizmente nada restou dos seus escritos. Todos foram destruídos. No ano de 415 d.C., Hipatia foi sequestrada e assassinada por uma multidão de monges enfurecidos depois de ser acusada de exacerbar um conflito entre duas figuras proeminentes em Alexandria: o governador Orestes e o bispo de Alexandria, Cirilo de Alexandria. Foi feita prisioneira numa igreja e ali, à vista de todos, foi golpeada brutalmente com pedaços de telha. Arrancaram-lhe os olhos e a língua. Quando já estava morta, seu corpo foi despedaçado, seus órgãos e ossos arrancados e depois queimados. A intenção do bispo Cirilo – mandante do crime – não era outra que a total aniquilação de tudo quanto a filósofa Hipatia significava como mulher da ciência.
João Scortecci