O escritor e advogado francês Charles Perrault (1628 – 1703) é considerado o "pai da literatura infantil”. Estabeleceu as bases para um novo gênero literário, o conto de fadas, além de ter sido o primeiro a recolher, dar forma escrita e acabamento literário a esse tipo de histórias, que, até então, eram contadas e transmitidas apenas oralmente. Contos de fadas, termo do latim “fatum”, que significa “destino”, “fatalidade”, são um tipo de história que apresenta personagens fantásticos e encantamentos. Distinguem-se de outras narrativas populares, como as lendas (que, em geral, misturam fatos reais e imaginários) e as histórias claramente morais, incluindo as fábulas. Charles Perrault foi contemporâneo do fabulista Jean de La Fontaine (1621 – 1695). Em 1665, Perrault se tornou superintendente do Rei Luís XIV, da França, e, dois anos mais tarde, ordenou a construção do Observatório Real, o mais importante observatório astronômico da cidade de Paris, de acordo com as plantas do seu irmão Claude Perrault, arquiteto de grande prestígio na época. Em 1671, Charles Perrault foi eleito para a Academia Francesa de Letras e, um ano depois, nomeado chanceler da Academia. Em 1695, aos 67 anos de idade, resolveu registrar as histórias que ouvia da sua mãe e nos salões parisienses. Dois anos depois, publicou-as no livro Histórias ou contos do tempo passado com moralidades, também chamado de Contos da velha ou, ainda, Contos da cegonha, ficando, afinal, conhecido pelo subtítulo Contos da mamãe gansa, referência à figura ficcional que se popularizou a partir do século XVII, na imagem de uma mulher idosa, contadora de histórias. A publicação rompeu os limites literários da época e alcançou público em todo o mundo, além de marcar o novo gênero literário, o conto de fadas. A maioria dos contos de fadas de Charles Perrault ainda hoje é publicada, traduzida e adaptada para várias formas de expressão artística, como o teatro, o cinema e a televisão. Entre os contos mais conhecidos estão “Chapeuzinho vermelho”, “A Bela adormecida”, “O gato de botas”, “Barba azul” e “O pequeno polegar”. “A Bela adormecida” é a história “do tempo passado” mais famosa da humanidade e – misteriosamente – continua arrepiando criancinhas de todas as idades. A figura da maléfica feiticeira ou fada maligna – como queiram – perpetua-se no sono de ogros e gnomos, na ilíada frenética e mística do beijo roubado e do verdadeiro amor, eterno enquanto dure.
João Scortecci