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OS ESCRITOS PROIBIDOS DE TOT, FILHO DE RÁ, PROTETOR DOS POETAS / JOÃO SCORTECCI

Tot – filho do deus Sol, Rá – é o deus do conhecimento, da sabedoria, da matemática, do tempo e da música. É aquele que mantém a ordem – a magia – no universo. Foi o encarregado de inventar a escrita entre os egípcios e de iluminar e proteger os poetas. É representado por um babuíno, animal que o acompanha sempre. Tot é homem com cabeça de íbis, uma ave. Compreende – com sabedoria – todos os mistérios da mente humana. Em muitas representações aparece ao lado de uma balança: o equilíbrio espiritual no momento do julgamento. Tot pesava a alma do morto antes de ele ir a julgamento. Cabia-lhe examinar e determinar a dignidade do morto: julgar seus sentimentos e propósitos. Era responsável por anotar – em versos – o resultado de cada julgamento. Com base no peso da balança, julgava se o morto tinha se conduzido bem ou não e se ele havia tido uma vida digna e honrada. Tot – é o que dizem – exerceu, também, o cargo de secretário das mais obscuras divindades: maiores e menores. Um papiro escrito há 33 séculos conta a história de como o demônio Nefer Ka Ptah encontrou o Livro do conhecimento e da sabedoria do deus Tot, submerso num rio, protegido por serpentes e escorpiões. Copiou-o com um sopro, encharcou-o na cerveja e depois o bebeu, adquirindo, instantaneamente, todo o saber do mundo, tudo quanto é dado saber a um deus. Tot, ao se inteirar do roubo do livro, regressou dos umbrais do tempo, matou o demônio Nefer Ka Ptah e recuperou o livro. O papiro com a saga pode ter sido destruído ou queimado por volta de 360 a.C. Dizem ainda que Tot – na cidade de Alexandria e na matemática do tempo – se converteu no corpo de Hermes Trismegisto (o três vezes grande, legislador egípcio e filósofo, que viveu na região de Ninus, por volta de 1.330 a.C.) e ajudou a iluminar 36 livros sobre teologia e filosofia, além de seis sobre medicina, todos destruídos após sucessivas invasões ao Egito. Para cada livro queimado ou destruído pelo demônio Nefer Ka Ptah, o deus Tot coloca na “balança do tempo” um novo poeta que – desavisado de tudo – segue iluminando o mundo da humanidade.

João Scortecci