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JORGE AMADO, GETÚLIO VARGAS E O FOGARÉU DE LIVROS / JOÃO SCORTECCI

Nos anos 1970 e 1980, li e reli quase toda a obra  composta de 49 títulos - do escritor baiano Jorge Amado (Jorge Leal Amado de Faria, 1912  2001) um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Considero o romance Capitães da Areia (1937) o mais marcante de todos. Destaco ainda os romances Dona Flor e seus dois maridos, Tenda dos milagres, Tieta do Agreste, Gabriela, cravo e canela e Tereza Batista cansada de guerra. Jorge Amado foi traduzido em 80 países e obteve sucesso também na TV, no teatro e no cinema. Integrou os quadros da intelectualidade comunista brasileira e também não escapou da queima universal de livros. Em 1937, durante o Estado Novo (1937  1946), por ordem direta do ditador Getúlio Vargas, teve queimados 1.800 exemplares do livro Capitães da Areia, na Cidade Baixa de Salvador, Bahia, a poucos passos do Elevador Lacerda e do atual Mercado Modelo. Getúlio Vargas “inaugurou” a sua “Comissão de Buscas e Apreensões de Livros do Estado de Guerra do Governo”, queimando em praça pública um dos maiores clássicos da literatura brasileira. O fogaréu era um símbolo do combate à "propaganda do credo vermelho", como definiram as autoridades do Estado Novo. Os exemplares queimados  na sua maioria  foram recolhidos das livrarias de Salvador e iluminaram, aos olhos da ignorância, da miséria, da varíola e da turma do trapiche, uma das maiores tragédias da literatura brasileira. Dizem  não sei se é verdade  que no meio da multidão que assistiu ao extermínio estavam lá os espíritos de Pedro Bala, Dora, João Grande, Professor João José, Pirulito, Gato, Boa-Vida e outros.

João Scortecci