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NIETZSCHE, O BODE E AS DIONISÍACAS DA VIDA / JOÃO SCORTECCI

Das tragédias. Durante as representações teatrais dedicadas ao deus Dionísio, conhecido como o deus da libido e da fertilidade, um bode era sacrificado ao canto de uma “oda” – poema lírico que expressa um forte sentimento – por aqueles que formavam o coro. Dionísio é um dos mais importantes deuses da religião e mitologia grega e o mais humano de todos. Foi o último deus a ser aceito no Olimpo e também o único filho de um simples mortal. Os gregos antigos eram apaixonados por teatro. Foram eles que criaram os gêneros clássicos da dramaturgia: comédia e tragédia. Esta última em sua origem era uma representação marcada por dor e sofrimento. Os atores nas apresentações usavam máscaras enfeitadas com chifres de bodes. O poeta e filósofo prussiano Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900), no ano de 1871, publicou a obra O nascimento da tragédia no espírito da música. Para Nietzsche, a arte – e somente ela – propiciava enfrentar a dor da existência. Sua filosofia central é a ideia de "afirmação da vida", que envolve questionamento de qualquer doutrina que drene uma expansiva de energias. Para Nietzsche, o homem ocidental tem seguido na direção do deus Apolo, mas tem se esquecido da paixão e da energia representada pelo deus Dionísio. As reflexões de Nietzsche – mais recentemente – foram recebidas em novas abordagens filosóficas e se movem ao encontro do "transumanismo" (movimento filosófico que visa transformar a condição humana – com o uso das novas tecnologias – às máximas potencialidades em termos de evolução humana, deixando em segundo plano a evolução biológica, alcançando o patamar de pós-humano). O “bode” e as “odes” estão novamente no teatro das tragédias. Na verdade sempre estiveram. Nunca se ausentaram da dramaturgia da vida. O bode de Dionísio até então dormia o sono do Olimpo, e os poetas em suas odes – apenas eles – resfolegavam libidos poéticos ao léu do espírito da dor e do sofrimento.

João Scortecci