Este texto começou a ser escrito há um ano, para homenagear o poeta gaúcho Mário Quintana (30.7.1906 – 5.5.1994). Estávamos lá onde ele mora, na sua cama, no seu pequeno quarto porto-alegrense, com menos lugares para perder as coisas. Acabei adormecendo dentro dele. Sono tão bom que, quando acordei, “o domingo era um cachorro escondido debaixo da cama” e eu estava triste porque não encontrava a “moedinha perdida”. Os mais lindos versos de amor silenciaram. Ele se fora sem dizer adeus? Depois lembrei de suas sábias palavras: “O amor é quando a gente mora um no outro”. O coração se acalmou, momentaneamente. O texto – inconcluso – ficou guardado, “como um romance que ficasse aberto” ou talvez temendo a morte e desejando-a como “um céu que pouco a pouco anoitecesse/e a gente nem soubesse que era o fim...” Por fim, porém, acordando sem um beijo doze domingos depois, se não a encontrei, ao menos me conformei, temporariamente, com a resposta nos esconderijos do tempo: “toda confissão não transfigurada pela arte é indecente”. “Poesia é insatisfação”. “Minha vida está nos meus poemas”.
Maria Mortatti – 30.07.2023