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REVISTA "FON-FON": CARICATURAS DE UMA ÉPOCA / JOÃO SCORTECCI

A revista ilustrada semanal Fon-Fon foi fundada pelo editor-proprietário Jorge Schmidt, que também era proprietário das revistas Kósmos (1904 – 1909) e Careta (1908 – 1960), na cidade do Rio de janeiro. O primeiro número de Fon-Fon circulou em 13 de abril de 1907, tendo como um de seus idealizadores o escritor e crítico de arte Gonzaga Duque (Luiz Gonzaga Duque Estrada, 1863 – 1911), autor do romance Mocidade Morta (1900). Na época, o Brasil passava por mudanças sociais, com a abolição da escravatura (1888) e a proclamação da República (1890). Nesse cenário de grandes transformações, chegam ao País os primeiros automóveis, que, em pouco tempo, tornaram-se um dos símbolos da modernidade. A revista, então, usa da onomatopeia – figura de linguagem na qual se reproduz um som por meio de fonemas –, para representar o som da buzina dos automóveis e cria um personagem chofer, chamado Fon-Fon, que ilustra vários textos ao longo das primeiras edições. A ideia do personagem chofer e do título da revista coube ao cartunista, jornalista e acadêmico Emílio de Meneses (1866 – 1918). A revista, inclusive, tornou célebres alguns ilustradores, como Nair de Tefé, J. Carlos, Raul Pederneiras e K. Lixto, e contou, também, com a colaboração do pintor Di Cavalcanti. A carta de intenções veiculada em seu primeiro exemplar – na página 3 – dizia como viam a sociedade fluminense: "Para os graves problemas da vida, para a mascarada Política, para a sisudez conselheira das Finanças e da intrincada complicação dos Princípios Sociais, cá temos a resposta própria: aperta-se a 'sirene', e... Fon-Fon!, Fon-Fon!" A presença marcante de fotografias, charges e caricaturas coloridas e o recurso às técnicas de ilustração, litografia e xilogravura traduziam visualmente essa identificação. Em seu editorial de lançamento, Fon-Fon se apresentou como um semanário alegre, político, crítico e esfuziante. Em 1915, a Fon-Fon sofreu mudanças. Sérgio Silva passou a ser o proprietário da revista, permanecendo assim até a última edição. A partir da década de 1930, os espaços reservados para as crônicas sociais e as sátiras políticas começaram a ficar escassos e perderam o vigor que tinham, cedendo lugar para a figura feminina e a divulgação de textos sobre beleza, comportamento, elegância e luxo. Durante o período do Estado Novo (1937 – 1945), a revista se alinhou ideologicamente ao governo de Getúlio Vargas. Na edição n. 26, de 1941, o intelectual e militar Mário Poppe de Figueiredo (1904 – 1985), exaltou as qualidades de Vargas, como Chefe de Estado, e o nacionalismo que, segundo ele, era “saudável”. Em 1942, com o ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial, grande parte dos textos de Fon-Fon passou a enfatizar o orgulho nacional, o espírito patriótico e guerreiro do brasileiro. A revista Fon-Fon circulou até a edição n. 2.637, publicada em agosto de 1958.

João Scortecci