Magda Becker Soares (Belo Horizonte/MG, 07.09.1932 – 1º.01.2023) é uma das educadoras mais notáveis da história da educação e da alfabetização no Brasil. Foi professora titular emérita da Faculdade de Educação da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, era graduada em Letras, mestre, doutora e livre-docente em Educação. Atuou como professora em escolas primárias e secundárias, e, na UFMG, participou da criação da Faculdade de Educação (FaE), da qual foi também diretora, formou milhares de professores, orientou dezenas de teses de doutorado e dissertações de mestrado em Educação, e, em 1990, Ano Internacional da Alfabetização (Unesco), fundou o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da FaE, do qual foi diretora até 1995 e onde continua atuando como colaboradora.
Participou também da criação e foi coordenadora do Grupo de Trabalho “Alfabetização, leitura e escrita”, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação e atuou como consultora ad hoc ou membro de instituições e órgãos nacionais e internacionais, como: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo; grupos de trabalho do Ministério da Educação, para avaliação de livros didáticos de língua portuguesa e cartilhas de alfabetização; conselhos editoriais de periódicos científicos nacionais; World Congress Committe da International Reading Association; Grupo Experts on Education Indicators, designado pela Unesco para avaliação e revisão dos documentos World Education Report – 1993 e 1995. Depois de se aposentar em 1999, continuou atuando como professora e pesquisadora, com destaque para o projeto sobre alfabetização e letramento que desenvolveu, desde 2007, como voluntária, com o Núcleo de Alfabetização e Letramento junto à rede municipal de educação de Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte.
É autora de livros didáticos de língua portuguesa e de artigos e livros sobre alfabetização e letramento, que se tornaram clássicos e referências obrigatórias para professores, pesquisadores e gestores da educação, como o artigo “As muitas facetas da alfabetização” (1985) e os livros Linguagem e escola: uma perspectiva social (1986), Alfabetização no Brasil: o estado do conhecimento (1989/2001), Letramento: um tema em três gêneros (1998), Alfabetização: a questão dos métodos (2017); Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e a escrever (2020), no qual compartilha a base teórica e as experiências do projeto de alfabetização no município de Lagoa Santa.
Por suas importantes contribuições para a educação brasileira, recebeu muitos prêmios e títulos, entre os quais: Ordem Nacional do Mérito Educativo, grau de Comendador, concedido pela Presidência da República do Brasil (2000); Presidente de Honra da ABAlf – Associação Brasileira de Alfabetização, em 2012; Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia (CNPq/MCTI), em 2015 – a primeira educadora a receber essa mais importante honraria nacional em ciência e tecnologia; 67o. Prêmio Jabuti – Educação e Pedagogia e Livro do ano, em 2017, pelo livro Alfabetização – A questão dos Métodos.
Uma de suas contribuições mais conhecidas e citadas é a proposta de alfabetizar letrando, que busca superar a plurissecular questão dos métodos de alfabetização, não devendo ser confundido com mais um deles, como alerta a educadora: “(...) em sua dimensão pedagógica, isto é, em sua prática em contextos de ensino, a aprendizagem inicial da língua escrita, embora entendida e tratada como fenômeno multifacetado, deve ser desenvolvida em sua inteireza, como um todo, porque essa é a natureza real dos atos de ler e escrever, em que a complexa interação entre as práticas sociais da língua escrita e aquele que lê ou escreve pressupõe o exercício simultâneo de muitas e diferenciadas competências. É o que se tem denominado alfabetizar letrando.”
Magda Soares é mestra, referência e inspiração para mim e os de minha geração – e das seguintes – que se dedicam aos magistério e aos estudos sobre alfabetização e educação. Sou leitora de seus textos, desde os anos 1980: como professora do ensino 1º. e 2º. graus, utilizei a série Português Através de Textos; e, como mestranda em educação, o livro Linguagem e escola e o artigo “As muitas facetas da alfabetização”. Nos anos 1990, após o doutorado e o ingresso como docente e pesquisadora na Unesp – Universidade Estadual Paulista, a obra de referência Alfabetização no Brasil: o estado do conhecimento foi decisiva para minhas pesquisas em história da alfabetização no Brasil e a de meus orientandos, assim como seus livros sobre alfabetização e letramento publicados até hoje. Nossos encontros não foram muitos, mas lembro bem de cada um. Inesquecíveis. Os mais significativos aconteceram no concurso de livre-docência, em 1997, de cuja banca ela participou; e, mais recentemente, por meio virtual, no lançamento da 2ª. edição (2021) de meu livro Os sentidos da alfabetização: São Paulo – 1876/1994 – resultante daquela tese de livre-docência – que, desde a primeira edição, em 2000, conta com seu honroso e “profético” texto de apresentação.
Nas comemorações dos seus primeiros 90 anos, em 2022, Magda Soares recebeu merecidas homenagens, especialmente de professores, alfabetizadores e pesquisadores – como no e-book Cartas para Magda, em que os organizadores reúnem cartas de amigos, colegas e alunos. Também inúmeras foram as homenagens quando de seu falecimento, em 2023, reafirmando a importância de seu legado que está intrinsicamente incorporado ao patrimônio educacional e cultural brasileiro e o princípio que norteou seu pensamento e suas ações: "A arma social de luta mais poderosa é o domínio da linguagem".
Maria Mortatti - 27.08.2023
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[Texto extraído, com adaptações, do capítulo de minha autoria, “Paulo Freire e Magda Soares: inspirações para esperançar”, no e-book História(s) de alfabetização, leitura e escrita: concepções, práticas e materialidades (2022), organizado por Katia Cardoso , Nanci Amâncio, Sílvia Pilegi Rodrigues e Sandra Bertold e publicado pela Editora da Universidade Federal de Rondonópolis.]