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O PRELO DE FERRO DE STANHOPE E O IMPRESSOR HONORÉ DE BALZAC / JOÃO SCORTECCI

O escritor, gráfico e cientista britânico Charles Stanhope (1753 – 1816) inventou um prelo, por volta de 1795, com um único propósito: publicar as suas obras. Apelidado de “Stanhope press”, o prelo era totalmente construído em ferro. As suas principais inovações foram a pressão regulável – por meio de uma alavanca – e as calhas oleadas de entintamento. Devido a um contrapeso no braço da alavanca de pressão, ela regressava automaticamente à sua posição inicial. Com essas melhorias no sistema de prensagem e de entintagem, obtinha-se uma produção uniforme, fina e constante de até 100 exemplares por hora. A “engenhoca” de Stanhope – em substituição aos tradicionais prelos de madeira – alcançou sucesso com a impressão do jornal inglês “The Times” ("Os Tempos"), de John Walter, fundado em 1785. Em pouco tempo, o jornal conquistou o continente europeu, depois de ter chegado, em 1814, à França, o maior centro gráfico, cultural e intelectual da época. O escritor e também impressor francês Honoré de Balzac (1799 – 1850), considerado o fundador do Realismo na literatura moderna, descreve ao longo das páginas do livro “Ilusões Perdidas”, editado em 1837, as transformações tecnológicas e as consequências da importação do invento de Charles Stanhope. Honoré de Balzac ficou conhecido com a publicação, entre outros, do livro “La Femme de trente ans” (“A Mulher de Trinta Anos”) escrito em seis partes, entre 1829 e 1842. Em prelos de ferro, foram “forjados” o design e as fontes tipográficas Didot (por Firmin Didot, 1764 – 1836), na França; Bodoni (por Giambattista Bodoni, 1740 – 1813), em Parma-Itália; e Baskerville (por John Baskerville, 1706 – 1775), na Inglaterra. Em Portugal, coube a Joaquim António Xavier Annes da Costa, administrador da Impressão Régia – hoje, Imprensa Nacional –, com autorização da patente inglesa, a fabricação de 13 prelos de ferro. Hoje restam seis dos prelos de Stanhope, em exposição no Memorial da Imprensa Nacional, e dois outros, no acervo do Memorial da Universidade de Coimbra. Durante a administração de Joaquim António Xavier Annes da Costa, de 1808 a 1833, a Impressão Régia publicou cerca de 2.000 títulos, tendo atingido, em 1832, o total de 102 colaboradores gráficos.

João Scortecci