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ELOQUÊNCIAS MITOLÓGICAS NA MADRUGADA DE HIGIENÓPOLIS / JOÃO SCORTECCI

Eu não sabia. Segundo o ditado mineiro: morrendo e aprendendo! Acordei – gritaria danada na rua – com um “pega” verbal, com xingamento e tudo, entre Calíope, a musa da eloquência, e Erato, a musa da poesia lírica. Falatório dos demônios. Abri a janela e lá estavam elas. Pilhadas, compartilhando memórias e a vida alheia. Falavam da belíssima Terpsícore, musa da dança e da sedução. O que será que Terpsícore teria aprontado? Grudei as orelhas na madrugada e me pus a ouvir os gemidos da história. As dores da vida! “Musa” é figura feminina da mitologia grega, fonte de inspiração nas artes e nas ciências. Na Grécia Antiga, eram nove as musas: Terpsícore (dança), Erato (poesia lírica), Euterpe (música), Polímnia (música sacra), Melpômene (tragédia), Tália (comédia), Calíope (eloquência), Clio (história) e Urânia (astronomia). Eram filhas de Zeus com Mnemosine, a memória, e habitavam o templo Mouseion. No “pega” mitológico, Calíope falava mais. Uma matraca afiada! Cuspia fogo na pobre da Terpsícore. Erato, mais reservada, argumentava ali e acolá, concordando ou não. Depois de quase uma hora de escuta clandestina e de perder o sono, pude, finalmente, descobrir o motivo do bate-boca entre as duas musas. Estavam iradas – invejosas, claro – com a notícia da escolha de Terpsícore, a musa da dança, pelo imperador Ptolomeu I, para uma apresentação na festa de inauguração do Museu de Alexandria, no lendário complexo da Biblioteca de Alexandria. Conversando com Aristarco de Samotrácia, diretor do museu, soube – a título de curiosidade – que a palavra “museu” tem sua origem na palavra “musa” e que o imperador Ptolomeu I, responsável pela construção do complexo, não foi o responsável pela escolha de Terpsícore, para a festa de inauguração do Museu de Alexandria. A deixa – contada pelo próprio Aristarco de Samotrácia – coube a Demétrio de Faleros, um influenciador de Ptolomeu I e, possivelmente, um enamorado platônico da musa da dança. É o que falam. É o que dizem. Morrendo e aprendendo!

João Scortecci