Pigmaleão, na mitologia grega, foi um rei da ilha de Chipre, localizada na Bacia do Levante, no Mar Mediterrâneo. Segundo o poeta romano Ovídio (Publius Ovidius Naso, 43 a.C. – 17 ou 18 d.C.), em sua obra Metamorfoses, Pigmaleão – que também era escultor –apaixonou-se por uma estátua que esculpira em marfim, ao tentar reproduzir a mulher ideal. Ele havia decidido viver em celibato, por não concordar com a atitude libertina das mulheres de Chipre, conhecidas como “cortesãs”. A deusa Afrodite – figura do amor, da sedução e da sexualidade –, apiedando-se de Pigmaleão e não encontrando em toda a ilha uma mulher que, em beleza e pudor, chegasse aos pés da que esculpira, transformou a estátua numa mulher de carne e osso, de nome Galathea, com quem Pigmaleão se casou e teve uma filha chamada Paphos, que deu nome a uma cidade portuária na costa sudoeste da ilha. Habitada desde o período neolítico, Paphos tem vários locais relacionados com o culto da deusa Afrodite, por ser o local mítico do seu nascimento. O Mito de Pigmaleão traduz um elemento do comportamento humano: a capacidade de determinar seus próprios rumos, concretizando planos e previsões particulares ou coletivas. Os mitos nos ajudam a entender as relações humanas e guardam em si a chave para o entendimento do mundo. Uma versão moderna da lenda é a peça teatral Pigmaleão (1916) – com posteriores adaptações teatrais e cinematográficas – escrita pelo dramaturgo, romancista e jornalista irlandês George Bernard Shaw (1856 – 1950). Na peça, em vez de uma estátua transformada em mulher, temos uma mulher do povo transformada em mulher da alta sociedade. Shaw, socialista ardente, escreveu muitos folhetos e discursos para o Socialismo Fabiano – doutrina criada em Londres, em 1883, pela Sociedade Fabiana, que esse dramaturgo integrou – que defendia gradual evolução para o socialismo, por meio de reformas sociais, diferenciando-se dos marxistas, que pregavam uma passagem revolucionária. Afrodite, responsável pela perpetuação da vida, do prazer e da alegria, sabe o que faz. É quando você – em metamorfose – torna-se aquilo que pensa ser, condoendo-se de compaixão, tragédia e amor.
João Scortecci