Abri oficialmente a Scortecci Editora no ano de 1982. Já trabalhava com edição e impressão de livros, desde 1978. O primeiro computador da empresa chegou em 1992, e a Internet – discada e barulhenta – no início de 1998. Costumo dizer que sou do tempo do pestape, da cola de benzina, do estilete e das máquinas IBM Composer, de esfera. O primeiro domínio na Internet foi o “scortecci”, em 1998, e a primeira loja de venda de livros “asabeça – cabeça que voa”, em 1999. É dessa época a inesquecível Maria Luíza, 18 anos de idade, estagiária de Comunicação. Cuidava do site, da loja e do cadastro da editora. De volta de uma viagem pelo interior de São Paulo, encontrei Maria Luíza chorando, arrancando os cabelos. “O que aconteceu?” Ela, aos prantos, respondeu-me: “Sr. Scortecci, estou desconectada do mundo! A Internet não funciona – travou tudo – e eu não sei mais o que fazer!”. “Não?” Maria Luísa estava totalmente fora de si. Enlouquecida! Justificou-se: “Preciso falar – urgente – com um autor”. “Calma! Calma!” Deixa eu dar uma olhada na ficha de atendimento do autor.” Ela me entregou a ficha. Completa, legível, com número de telefone e tudo, melhor impossível. “Você sabe que aparelho é esse na sua mesa?”, perguntei, apontando para o aparelho de telefone. “Sei. Claro. Um telefone. Por quê?” “Sabe para que serve?”, insisti. “Claro!”, respondeu-me, já de cara feia. “Que tal você discar para o autor?” “Posso?” Não respondi. Virei as costas e fui embora. Foi o que ela fez. Discou e conversou – demoradamente – com o autor. Naquele mesmo dia, no final da manhã, reuni todos os sete estudantes estagiários para um bate-papo sobre os primórdios da editora. Contei-lhes, então, que, antes dos computadores, da Internet, dos aparelhos de fax, das copiadoras e impressoras, dos scanners e, mais recentemente, dos aplicativos, do CD, do pen drive, dos arquivos nas nuvens, dos celulares, dos smartphones, das redes sociais e outros, tudo era – muito – diferente e também funcionava. Disse-lhes: “Sou do tempo do pestape, da cola de benzina, do estilete e das máquinas IBM Composer, de esfera.” Deram risada, de tudo. De mim também, claro. Um detalhe importante: naquele mesmo ano tratei de trocar todos os aparelhos de telefone de discar por moderníssimos aparelhos de teclar, sem fio. A ficha caiu, de vez. Melhor impossível.
João Scortecci