Pesquisar

SPAZIO PIRANDELLO, LOYOLA, ZIRALDO E A GAFE / JOÃO SCORTECCI

Uma história puxa outra! Lendo o post de um amigo nas redes sociais, falando de sua amizade e como conheceu o escritor Ignácio de Loyola Brandão, isso nos anos 1970, voltei, também, no tempo. Conheci o Loyola Brandão no início dos anos 1980, no restaurante Spazio Pirandello – na época, casa da boêmia paulista, dos empresários Wladimir Soares e Antonio Maschio – localizado na Rua Augusta, 311, na cidade de São Paulo. Era no Pirandello – ponto de encontro de intelectuais – que a vida literária e cultural da cidade acontecia, no maior estilo. A casa reunia bar, restaurante, livraria, galeria e antiquário. Lançar um livro no Pirandello era o máximo, sinal de casa cheia, sucesso e venda garantida. Fui, então, ao lançamento do livro Livre & Objeto, da escritora cearense Joyce Cavalcante, amiga da UBE – União Brasileira de Escritores. Conhecia pouca gente, e a vida literária era, até então, uma grande novidade. No meio do agito – restaurante lotado, gente saindo pelo ladrão – avistei, de longe, o escritor e cartunista Ziraldo, autor de Flicts (1969), livro do coração, que ganhei de presente do meu irmão José Henrique, em 1972. “É o Ziraldo!”. Não pensei duas vezes. Fui até ele, na maior cara de pau. “Ziraldo, sou sem fã”. Ele me olhou – sorriu – e disse, ao pé do ouvido: “Pena que eu não sou o Ziraldo! Sou o Ignácio de Loyola Brandão". Minha cara caiu. Perdi o rebolado. Quase morri. Loyola, educado, gentil, percebendo o meu desespero, disse-me: “Conheço o Ziraldo. Obrigado por me confundir com ele”. Comprei o livro da escritora Joyce Cavalcante e fui embora. Fiquei um bom tempo longe do Spazio Pirandello. Um dia, do nada, voltei. Enganos acontecem. Até hoje, quando vejo o Loyola – vez ou outra nos encontramos – lembro-me da gafe. Acontece!   

João Scortecci