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TYPHIS, O TIMONEIRO DE ARGO, E FREI CANECA, ESCRITOR DE PAPÉIS INCENDIÁRIOS/ JOÃO SCORTECCI

O semanário Typhis Pernambucano foi fundado e editado pelo escritor, jornalista, clérigo católico e político Frei Caneca (Joaquim da Silva Rabelo, 1779 – 1825). O semanário – impresso no formato 21 x 30 cm – circulou entre 25 de dezembro de 1823 e 12 de agosto de 1824, num total de 29 exemplares. Foi inspirado em Tífis, discípulo da deusa Atena, timoneiro da embarcação Argo, construída com a ajuda da deusa para que Jasão e os argonautas navegassem de Iolcos até Cólquida, para recuperar o Velocino de Ouro – a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo. O Typhis Pernambucano trazia, como epígrafe, versos d’Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões: "Uma nuvem que os ares escurece sobre nossas cabeças aparece". Frei Caneca, erudito, de origem humilde, conhecido por esse apelido por ter sido vendedor de canecas quando garoto, em Recife, foi educado no Seminário de Olinda. Dirigindo o jornal, fazia sua pregação republicana, denunciando o autoritarismo imperial e conclamando a população à luta. Em seu primeiro número, lançado em 25 de dezembro de 1823, o Typhis Pernambucano anunciava que o país parecia "uma nau destroçada pela fúria oceânica, ameaçando soçobro, carecendo da ajuda decidida e abnegada de todos os seus filhos". Frei Caneca participou da Revolução Pernambucana (1817), que proclamou uma república e organizou o primeiro governo independente na região. Com a derrota do movimento, foi preso e enviado para Salvador, Bahia, onde permaneceu detido por quatro anos, dedicando-se à redação de uma gramática da língua portuguesa. Libertado em 1821, voltou a Pernambuco e retomou as atividades políticas. Em 2 de julho de 1824, em Pernambuco, eclodiu a Confederação do Equador, movimento revolucionário de caráter republicano e separatista, alastrando-se para outras províncias do Nordeste do Brasil. O movimento, no entanto, não obteve sucesso e acabou derrotado. Frei Caneca foi preso, acusado do crime de sedição e rebelião contra as imperiais ordens de Sua Majestade, e condenado à morte por enforcamento. Nos autos do processo, Frei Caneca foi indiciado como um dos chefes da rebelião e "escritor de papéis incendiários". Armado o espetáculo do enforcamento, em 13 de janeiro de 1825, diante dos muros do Forte das Cinco Pontas, três dos carrascos se recusaram a enforcá-lo. A Comissão Militar ordenou, então, seu fuzilamento atado a uma das hastes da forca. O corpo foi colocado num caixão de pinho e deixado no centro de Recife, em frente ao Convento das Carmelitas. Foi recolhido pelos padres Carmelitas e enterrado em um local até hoje não identificado.

João Scortecci