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IZUMI SUZUKI E A QUÍMICA OXIMEL / JOÃO SCORTECCI

Fui um péssimo aluno de Química no colegial. Interesse zero! Lembro-me que apenas uma vez em sala de aula um assunto se ocupou de mim. Foi uma aula sobre combinação, fenômeno que ocorre quando substâncias químicas interagem e formam novas substâncias. Gostei das possibilidades. Igual à poesia! Até hoje guardo na cabeça as leis da combinação química e suas interações literárias. Anotei a ideia no meu diário e, anos depois, usei o conceito para escrever o livro “O Eu de Mim - Poema ecológico”, obra original do poema vencedor do IX Prêmio Itajaí de Poesia 1982. No poema, versos sobre química oximel, mistura de mel, vinagre e penas de gralha azul, remédio para as feridas da natureza humana. Talvez tenha sido o único livro que escrevi sobre ecologia, a destruição do planeta, o homem predador, covarde, algo assim. De lá para cá, as coisas só pioraram. Sou um apaixonado pelos livros de ficção científica, da combinação oximel: ciência, tecnologia e imaginação, narrativas sobre o futuro. Tenho uma lista de escritores do coração: Isaac Asimov, Aldous Huxley, Ray Bradbury, Júlio Verne, George Orwell e outros. Hoje conheci a escritora e atriz japonesa Izumi Suzuki (1949 -1986), autora do livro “Tédio terminal”, obra publicada pela DBA editora. Nesse livro, escrito entre os anos 1970 e 1980, Suzuki, visionária, escreveu sobre “cérebro podre”, a temática do vício em telas e tecnologia, estados totalitários, fluidez de gênero e jovens assexuados. A expressão está associada a: consumo de informações simples ou de baixa qualidade, rolagem de feeds on-line, busca por notícias negativas e angustiantes e afastamento de atividades e conteúdos mais complexos. O termo “cérebro podre” foi usado pela primeira vez em 1854 por Henry David Thoreau, no livro "Walden". O autor criticava a falta de valorização de ideias complexas e comparava o "brain rot" ao apodrecimento das batatas na Inglaterra, referindo-se à "Grande Fome da Batata", que ocorreu na Europa na década de 1840, causada por uma doença – conhecida como míldio, provocada pelo fungo Phytophthora infestansque – que contaminou as batatas e as tornou impróprias para o consumo. Izumi Suzuki cometeu suicídio em 1986, aos 36 anos de idade, enforcando-se em casa. Assim é a poesia! 

João Scortecci