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AUGUSTO DE CAMPOS E A INFOXICAÇÃO EM TEMPOS DE IA / JOÃO SCORTECCI

Um dia de cada vez. Lendo sobre o uso e aplicação de ferramentas de Inteligência Artificial na literatura, encontrei algo do outro mundo – literalmente. Já chegamos lá? Talvez. Estava trabalhando numa apresentação para a Abigraf – Associação Brasileira da Indústria Gráfica, intitulada “O produto livro – Das responsabilidades da Indústria Gráfica”, quando dei de cara com um artigo do outro mundo, em que se dizia que um centro espírita estava usando IA, para se comunicar com pessoas que já haviam morrido. Conversas do além, algo assim. Gosto do assunto – muito – o que me obrigou a ler o artigo inteiro. Faz parte. Aqui com as almas penadas da literatura: já imaginaram incorporar uma identidade IA? Receber um mix de escritores malditos, concretistas, modernistas e parnasianos? Doideira! Verdadeira infoxicação literária. Descobri, ainda, que a palavra "infoxicação” é a junção das palavras "informação" e "intoxicação", conceito concebido pelo físico espanhol Alfons Cornellade, para designar a situação em que uma pessoa tenta receber e analisar um número de informações muito maior do que seu organismo é capaz de processar. Dizem – não sei se é verdade – que um ser humano tem a capacidade máxima de ler 350 páginas por dia, caso faça apenas isso o dia inteiro! Desconfio. Já o volume de informações que recebemos diariamente pela Internet é de cerca de 7.355 gigas, o equivalente a bilhões de livros! Lendo sobre os 94 anos do incrível escritor Augusto de Campos e o lançamento do seu livro “Pós Poemas”, algo me chamou atenção – além da conta – no belíssimo texto escrito pelo jornalista Claudio Leal. No olho do texto, chamado de resumo: “Augusto de Campos, principal escritor brasileiro vivo!”. Algo assim. Augusto merece todos os elogios e imortalidade. O que achei estranho – Drummond já havia alertado sobre o perigo – foi a afirmação de se tratar do principal escritor brasileiro vivo. Não precisava. Poderia ser algo assim: “Um dos principais...” Todos os dias perdemos escritores incríveis, maravilhosos e imortais. Conhecidos e desconhecidos. Precisava dizer isso? Talvez não. E mais: o assunto do centro espírita comunicando-se por IA com escritores mortos promete briga, confusão e inveja. Ou não? O papel aceita tudo! O inferno e o céu também. No mais, vou comprar o livro do poeta Augusto de Campos. E, se possível, com autógrafo.   

João Scortecci