A revista Novidades Fotoptica lançada em 1953 e publicada até 1987, com alterações na periodicidade, formato e conteúdo, foi uma das iniciativas de Thomaz Farkas (17.10.1924-25.03.2011), fotógrafo, cineasta e empresário de origem húngara radicado na cidade de São Paulo. Reconhecido como um dos pioneiros da moderna fotografia e do filme documentário no Brasil, ao lado de grandes cineastas do Foto Cine Clube Bandeirantes, Farkas assumiu, após a morte do pai em 1960, a direção da Fotoptica, primeira empresa especializada em equipamentos fotográficos no País. Com formato de jornal, Novidades Fotoptica publicava anúncios de produtos do ramo, divulgação de livros e concursos, artigos sobre técnica fotográfica e audiovisual, exposições, entre outros. A partir de 1970, com formato de revista, passou a publicar também textos críticos e ensaios fotográficos.
Não menos importante na cena cultural e literária brasileira foi a Editora Brasiliense, fundada em 1943 na cidade de São Paulo, por reconhecidos intelectuais e escritores brasileiros: Caio Prado Júnior, José Bento Monteiro Lobato, Arthur Neves, Leandro Dupré a Maria José Dupré, cuja casa foi utilizada como primeira sede da editora. A Brasiliense publicou obras fundamentais da literatura e cultura brasileira e internacional, caracterizando-se pelo prestígio de seus autores e como foco de resistência ao Estado Novo e à ditadura militar pós-1964. A partir de 1975, sob a direção de Caio Graco Prado (1931-1992), filho de Caio Prado Júnior, foram lançadas coleções inéditas, como a Primeiros Passos, que tiveram sucesso editorial duradouro, com vendas de milhares de exemplares nos anos 1980. A editora também lançou a Revista Brasiliense, com circulação entre 1955 e 1964, e Leia livros, dirigida por Caio Graco Prado e Cláudio Abramo, com circulação entre 1978 e 1984. A Livraria Brasiliense, na Rua Itapetininga, no centro da cidade de São Paulo, tornou-se referência para encontros de intelectuais, escritores, manifestações, debates e exposições.
No final do ano de 1979, Fotoptica e Editora Brasiliense, reunindo expertises, promoveram o Concurso Cena Brasileira, com ensaios de textos e fotos. Os selecionados foram publicados na revista Novidades Fotoptica, n. 83, de 1978. No editorial consta comentário sobre os ensaios, que revelam a visão de uma parcela significativa da população, na moderna cena fotográfica e literária e cultural e no contexto político da época: “Não importa onde esteja a cena brasileira [...] o que interessa é que muitos jovens brasileiros querem encontrar os vestígios de uma realidade sem os retoques do estúdio”. Como “nos tempos do movimento universitário, a fotografia documento sem ranço de qualquer academicismo sociologismo ou antropologia [...] A unidade de palavra e de imagem muito pouco estimulada na maior parte de nossas situações ganha em vigor e expressão.”
Além da publicação na revista Novidades Fotoptica, os premiados no concurso tiveram a oportunidade de expor suas fotos e poemas em varais estendidos na calçada em frente à Livraria Brasiliense. Lá estava meu poema “Rapsódia brasileira: queimação da cana” acompanhando cinco fotos de Karlos Magnani. Aquela cena da estreia pública da jovem poeta numa paulistana manhã de sábado ficou documentada nas páginas da revista, guardada no acervo pessoal e preservada na memória desta brasileira.
Maria Mortatti